Figueroa Panisse, Adela

Homenagem a Araceli Herrero Figueroa

Carta aberta á minha curmã Lili.

Querida prima, Há um ano que nom nos vemos, e no entanto eu nom deixo de te lembrar.

Falta-me o teu andar decidido e o teu rir escandaloso. A tua prudência nas opiniões e teus contos da família relatados entre gargalhadas e sorrisos irónicos.

Estive lendo a Emilia Pardo Bazán. Porque tu eras uma grande admiradora sua, se calhar herdado da tua mãe, minha madrinha. Para tentar acercar-me a ti. Eu preferia a Rosalia, e tu defendias a genialidade literária de Dona Emilia a quem o galeguismo clássico sempre deixou num segundo plano. Pedias objetividade e deixar de lado os preconceitos para julgar à Pardo Bazán.

Reconheço o mérito da autora, ainda que continuo a lhe reclamar que nom tivesse escrito em galego como sim o fez Rosalia. Mas também acabo por compreender a tua admiração por Dona Emilia. Verdadeiramente levar a bandeira da defesa dos direitos das mulheres é uma ousadia que somente uma personalidade forte e independente como ela, pude fazer. Defender o proletariado na classe trabalhadora das cigarreiras da Corunha, ainda mais meritório, nomeadamente se considerarmos os tempos em que ela escreveu. A tua Emília parece-me cada vez mais admirável. Compreendo que foi desprezada ou minusvalorizada por ser escritora e nom escritor.

Já estou eu passando-me contigo para as linhas de Dona Emilia. Nom somente por ela, mas pola injustiça que representa ter deixado a tão grande escritora na segunda fileira da genialidade literária. Sei que isso foi, fundamentalmente polo seu carácter feminino, e nom pola falta de categoria literária. Tanto polo que diz a respeito da sua escritura como das temáticas por ela abordadas. Revolucionária. Foi um revulsivo dificilmente admissível pola sociedade patriarcal da época e, ainda pola posterior. Lembro de estudar a Emilia Pardo Bazán em Literatura quando ia ao Instituto. Nom passava de ser considerada como uma autora de segunda. Nom aparecia entre as grandes.

Já sei porque tu a admiravas. A sua prosa é impecável, e o ritmo de seus relatos perfeito.
 
Rigorosa como eras tu nos teus trabalhos, isso era de esperar. Porque na tua profissão nom podias, apenas, estudar argumentos ou escritos de entretenimento. Tu, que eras muito exigente contigo mesma, exigias também rigor na argumentação e correção no texto literário.

Ves? Acabas-te por convencer-me de que olhasse a Dona Emilia sem preconceitos. Ainda que tu nom eras muito de convencer a ninguém.

Figueroa Panisse, Adela

Carmen Porto e Araceli Herrero (2010), na Homenaxe do Concello de Ferrol no Centenario de Carballo Calero (Foto: Pablo Santomé)

Deixavas-me falar, olhavas-me ladeando a cabeça, escutavas e, se calhar dizias, “Pode... Mas igual era bom revisares a tua opinião”, movendo a cabeça para os lados.

Ou, também podia ser: “Nom, nom, nom. Isso nom é assim”. E a seguir explicavas teu argumento.

Mas tu e mais eu nom discutíamos por cousas miúdas como Emilia Pardo Bazán e Rosalia de Castro (sic. Polo de miudas...). Porque a amizade fundamenta-se na tolerância das diferentes opiniões separando o joio do grão e, no nosso caso, nos anos de convívio e de criança em comum.

Saltamos a corda juntas no Cantóm de Lugo e brincamos ao Iombo na alameda a beira da nossa casa. Temos ido merendar ás costas do parque nas tardes de verão antes de irmos veranear a Sada e banhar-nos na sua praia por muitos anos durante a nossa infância.

A primeira vez que assisti a uma palestra tua fiquei assombrada da seriedade da tua expressão e admirada pola documentação em que baseaste a tua palestra. E, ainda pola solenidade do teu discurso.

Mas o que mais eu conhecia era a tua cotidaneidade. Sei que escondias a tua timidez por detrás da tua espontaneidade, e tua ingenuidade por trás de algumas afirmações rotundas.

Figueroa Panisse, Adela

Recibindo o premio de teatro da man de Manuel Lourenzo

Foste a primeira professora de Galego num centro oficial, a Escola de Formación del Profesorado de Lugo, dependente da Universidade de Santiago. A tua cátedra foi na Didáctica da Lingua, que incluía tanto a Espanhola como a Galega . Muito do teu alunado te lembra com respeito e carinho. Porque eras uma grande trabalhadora com muita empatia para as pessoas que te rodearam.

Mas, sabias julgar muito bem a todas elas.

Não vou eu fazer aqui uma exibição de teu currículo. Já está publicado e há pessoal experto que o fará muito melhor ca mim.

Mas eu posso falar de teus conselhos quando te consultava algum escrito. Da tua generosidade para os méritos dos demais, por exemplo eu. Da tua fidelidade á família. Da tua independência que conseguias defender sem abandonar aos teus .

Querida Lili, tenho muita saudade de ti.

Lamento tua falta e celebro contigo todos os momentos felizes na tua vida. Especialmente aos que assisti como testemunha, junto com Nenuca e Macali.

Deixaste um grato arrecendo espalhado no ar quedo da cidade murada em que nascemos e vivemos nossa primeira infância. Um ano após o teu passamento, lembro-te rindo para mim e minha cara abre um tenro sorrir pensando a tua imagem alegre e dinâmica.

Bem haja querida curmã.